O QUE É O MADE

O programa de Doutorado em Meio Ambiente e Desenvolvimento da UFPR tem o objetivo geral de formar profissionais qualificados para identificar, analisar e avaliar os problemas ambientais decorrentes do processo de transformações econômicas e sociais. O enfoque e a prática interdisciplinares, relacionados com a reflexão dos problemas concretos do desenvolvimento, deverão nortear as preocupações com a sustentabilidade dos sistemas naturais e sociais.

A interdisciplinaridade é vista como um processo de conhecimento resultante da própria natureza do campo ambiental e da problemática do desenvolvimento sustentável, que se insere na relação existente entre natureza e sociedade.

A estrutura do curso está assentada na indissociabilidade das atividades de formação e pesquisa. As atividades de formação fornecem os instrumentos conceituais e metodológicos que propiciam um enfoque interdisciplinar da problemática sócio-ambiental. A pesquisa tem a função central de proporcionar a aprendizagem das práticas concretas desses instrumentos. O programa constitui-se, portanto, num espaço de reflexão teórica e de prática de pesquisa, a partir da interação de profissionais já formados e especializados em suas respectivas áreas de conhecimento e, de preferência, já envolvidos com a temática do meio ambiente e desenvolvimento. O curso fornece os instrumentos teóricos, conceituais e práticos para o diálogo interdisciplinar, organizando o programa de pesquisa de cada turma em torno de linhas de pesquisa previamente definidas.

Histórico

Há hoje uma ampla aceitação de que as fronteiras conceituais e metodológicas que se ergueram entre as ciências, ao longo de sua evolução, devem ser transpostas para o trato da problemática ambiental e para a eventual proposição ou aplicação de planos de desenvolvimento ou gestão de recursos naturais. Nas universidades de todo o mundo, o reflexo estrutural mais evidente da progressiva especialização das ciências foi a setorização e a departamentalização do saber. O programa de Doutorado em Meio Ambiente e Desenvolvimento da Universidade Federal do Paraná vem tentando basicamente reverter este processo, ao longo dos últimos 10 anos, atuando como espaço de interface entre as ciências da sociedade e da natureza, com o desenvolvimento de metodologias conceituais e instrumentais fortemente integradas e interativas, que procuram ir muito além da simples justaposição disciplinar.

Tendo acompanhado e participado dos diversos Seminários Nacionais sobre Universidade e Meio Ambiente realizados no Brasil durante a década de 1980, a UFPR inspirou-se nas diretrizes e orientações do III Seminário, realizado em Cuiabá, em 1988, para implementar um programa de formação, pesquisa e extensão na área das ciências ambientais, com enfoque sistêmico e metodologia interdisciplinar. As atividades até então implementadas pela UFPR na área ambiental, mesmo de caráter monodisciplinar ou departamentalizado, permitiram-lhe um acúmulo de conhecimento e experiência que, por sua vez, viabilizou a criação de uma estrutura destinada a coordenar estas iniciativas de formação, pesquisa e extensão na área das ciências ambientais. Esta estrutura foi inicialmente o NIMAD - Núcleo Interdisciplinar de Meio Ambiente e Desenvolvimento, criado em 1990, a partir de uma reflexão aprofundada sobre as relações da questão ambiental com os modelos de desenvolvimento, envolvendo professores de vários setores, especialmente dos Setores de Tecnologia, Ciências Agrárias, Ciências da Terra e Ciências Humanas. Esta reflexão visava, desde o início, a proposição de soluções social e economicamente adaptadas para problemas ambientais. Uma das primeiras iniciativas do NIMAD, apoiada por docentes de diversos departamentos e por pesquisadores das universidades francesas de Paris VII e Bordeaux II, foi a criação de um programa de formação de recursos humanos em nível de pós-graduação. Este programa de Doutorado em Meio Ambiente e Desenvolvimento (MADE) resultou de diversos seminários e reuniões nacionais e internacionais, desenvolvidos entre os anos de 1990 e 1993. O programa contou, desde o início, com a colaboração da administração superior da Universidade e com a ativa participação de comissões de implantação, formadas por docentes provenientes de 18 diferentes departamentos da UFPR e por pesquisadores e professores de instituições francesas, com destaque para Paris VII, Bordeaux II e a École de Hautes Études en Sciences Sociales. Instrumental para esta implantação foi a realização de um seminário internacional em maio de 1991, no qual foi possível a divulgação e avaliação das experiências em pós-graduação da UFPR, de outras universidades brasileiras e de universidades francesas. Por sua especificidade, o programa de Doutorado teve sempre um caráter supra-departamental e supra-setorial, vinculando-se atualmente à Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação.

O programa de doutorado, aprovado pelo Conselho de Ensino e Pesquisa da UFPR e credenciado pela CAPES, responsável pelo apoio financeiro e concessão de bolsas para formação de recursos humanos, foi iniciado no mês de agôsto de 1993, com uma turma de dezessete alunos, provenientes das mais diversas áreas disciplinares. A evolução deste projeto no âmbito da UFPR foi polêmica, originando acesos e apaixonados debates acadêmicos, que o testaram e aprimoraram. Desde a implantação do MADE, diversas experiências similares vêm acontecendo em outras universidades brasileiras, particularmente com o estímulo inicial do II Plano de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico, que procurou priorizar formações interdisciplinares na área do meio ambiente.

A restrição do curso ao nível de doutorado está intimamente ligada a uma de suas principais diretrizes conceituais. Seu objetivo primário é a construção de uma visão integrada dos problemas relacionados com meio ambiente e desenvolvimento, procurando capacitar profissionais que já possuem uma especialização para um trabalho de integração nas interfaces de um objeto novo. Desta forma, seu objetivo não é criar uma nova disciplina ou uma super-disciplina ambiental, mas sim a de promover a interação de profissionais já especializados em suas respectivas áreas de formação e já envolvidos profissionalmente com a temática do meio ambiente e desenvolvimento. O curso procurará fornecer os instrumentos teóricos, conceituais e práticos para este diálogo interdisciplinar, organizando cada turma em torno de programas ou linhas de pesquisa, previamente definidos pelos docentes. Uma conseqüência lógica deste procedimento é a inexistência de linhas individuais de pesquisa, por parte dos orientadores, no contexto do curso.

O primeiro programa de pesquisa, desenvolvido entre os anos de 1993 e 1998, recebeu o nome genérico de "Gestão de recursos naturais e energéticos e condições de vida e saúde das populações da Área de Proteção Ambiental de Guaraqueçaba (Paraná)". A restrição do programa a uma pequena área do litoral norte do Paraná, em um país com problemas ambientais e desenvolvimento tão gritantes, teve razões de ordem prática. No plano do desenvolvimento e meio ambiente esta região é emblemática, porque ilustra de maneira quase didática a situação de conflito entre imperativos preservacionistas e uma realidade de subdesenvolvimento socioeconômico. No plano acadêmico e pedagógico, a restrição do trabalho a uma pequena área permitiu, em um primeiro momento, um maior controle do processo como um todo. Com sua progressiva consolidação, o MADE expandiu seus horizontes de atuação acadêmica, passando a abordar problemáticas de desenvolvimento em diversas áreas, hoje estruturadas em suas quatro linhas de pesquisa: Epistemologia ambiental/ Urbanização, cidade e ambiente urbano/ Ruralidades, ambiente e sociedade / Usos e conflitos em ambientes costeiros.

Após um período inicial de associação ao Centro de Estudos do Mar e à Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação, o Programa de Doutorado está hoje vinculado ao Setor de Ciências da Terra.

Passados mais de treze anos de sua criação, o doutorado deve ser visto como uma das grandes realizações acadêmicas da história recente da UFPR e um verdadeiro motivo de orgulho para esta universidade. Este programa, responsável pela formação de cerca de 60 doutores e com mais de 60 alunos cursantes, é hoje um espaço acadêmico com ativas e produtivas colaborações com o mundo inteiro, com ênfase na América Latina. A demanda pelo curso vem crescendo de forma significativa, com uma média histórica de 200 candidatos por processo seletivo.